segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Quando entro na FNAC sinto-me como uma criança numa loja de brinquedos, que quer abarcar com os sentidos o máximo do que o espaço coloca à sua disposição. É deveras tentador.

Acabei por me decidir por estes mimos. "O Lado Selvagem" que ando em pulgas para ler desde que vi o enebriante filme de Sean Penn e o recém lançado livro "Uma Vida Normal" do Paulo Azevedo com a Sofia Arêde, inspirado na reportagem da Sic com o mesmo nome, que na época aqui referi e que me impressionou. No fundo, duas biografias (penso que lhes posso chamar assim) de duas pessoas ímpares.

Mas houve outra obra que me ficou na retina:

"No dia 21 de Dezembro de 1988, David Dornstein foi uma das vítimas do atentado que derrubou o voo 103 da Pan Am, fazendo o avião despenhar-se sobre a pequena cidade de Lockerbie, na Escócia. David deixou um irmão mais novo, Ken, desesperado por perceber a sua morte e recolher as peças soltas do acidente.Longe de ser uma missão simples de resgate, a jornada de Ken transformou-se num acto de amor, numa obsessão, e ainda numa viagem emocional a lugares bem mais estranhos do que ele alguma vez imaginara.Oito anos passados sobre o acidente, Ken começou a ler os escritos, nomeadamente cartas e um apaixonante diário, deixados pelo irmão, prolífico escritor mas nunca publicado. Decidiu viajar até Lockerbie e tentou reconstituir o mistério que fora a vida de David. Vinte anos passados, Ken Dornstein está casado com o primeiro amor do seu irmão David, é pai e vive em paz com a sua perda."

Era uma vez um tempo em que eu tinha um irmão. Era mais velho, mais alto, mais sensato, mais ousado, mais apaixonado; falava melhor e tinha muito melhor aparência do que eu. Viajava para mais longe de casa do que eu alguma vez imaginara ser capaz. Admirava-o. Tinha dezanove anos quando ele morreu, estava no segundo ano da faculdade. Agora, estou a meio dos trinta. Tenho algumas recordações do meu irmão, mas não tantas como gostaria de pensar. Cada vez que as verifico, parece-me que tenho menos uma. Se inicialmente me parecia difícil acreditar que David estava morto, agora custa-me a acreditar que alguma vez tenha sequer vivido.

in Guerra & Paz

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