- Algumas escolas constituem as turmas com base na classe sócioeconómica dos alunos ou no insucesso escolar. Em certas escolas o horário da manhã é ocupado pelas turmas com melhor aproveitamento e comportamento, sobretudo alunos brancos, enquanto que o da tarde é reservado às mais problemáticas, filhos de imigrantes ou individuos com baixa escolaridade e negros. Chega-se ao ponto dos alunos da manhã nem conhecerem colegas das turmas da tarde, dadas as horas diferentes em que estão na escola;
- As turmas mais problemáticas são entregues preferencialmente a professores mais novos na escola e que provavelmente não ficarão muito tempo, enquanto que as outras são entregues aos professores com mais anos de carreira;
- Alunos inscritos em escolas com altas taxas de insucesso tentaram inicialmente matricular-se em escolas com altas taxas de sucesso mas não tiveram vagas, sendo preteridos a favor de jovens de classe média ou alta;
- Uma vez que se dá primazia à continuidade de currículo, e muitas crianças integram a mesma turma desde o pré-escolar até ao 12.º, salvo situações de reprovação ou outras, o seu percurso escolar é atravessado pela segregação.
- Não serão as circunstâncias que enumerei factores decisivos para o insucesso escolar e a indisciplina?
Estas conclusões por si só são reveladoras que algo de muito grave se passa no nosso sistema educativo. Mas assustadores são depois os comentários que vemos aos estudos no mesmo jornal, onde uma larga maioria das pessoas concorda e defende estas práticas. Não é dificil perceber pelo tipo de discurso que muitos dos que comentam a notícia são encarregados de educação dos alunos privilegiados. Os pais dos outros alunos são capazes de nem tomar conhecimento destes estudos nem têm acesso à internet para virem exprimir a sua opinião... Mas era essa que gostaria de ouvir! Encontram-se também professores a enaltecer esta situação. É enorme a lacuna na formação de professores para a educação multicultural. Estes são claramente discursos discriminatórios e racistas, que se vão reflectir também na diferenciação de tratamento dos alunos dentro da sala de aula.
Neste contexto, promove-se a tão proclamada igualdade de oportunidades?! Se as próprias escolas usam estes meios segregatórios como querem depois desenvolver programas e projectos de cariz inclusivo, combate ao racismo, aceitação étnica? Pessoalmente vejo aqui uma contradição desmedida.
O problema tem raizes muito profundas. É preciso mexer nas bases do ensino, trabalhar a mentalidade destes professores e destes pais. São processos morosos, que levam muitos anos e abrangem várias gerações, mas que urgem ser empreendidos.
Depois ainda há aqueles que condenam e atiram para a fogueira os autores do estudo, aqueles que querem empurrar o sujidade para debaixo do tapete. Não faço ideia se os estudos vieram a público numa altura oportuna para o governo como dizem. Importa é que foram tornados públicos e como estes muitos outros deviam ser, e não ficarem confinados a publicações ciêntificas e a um círculo de pessoas que se interessa. Admiro muito o trabalho dos sociólogos do ISCTE e de outros centros de investigação, e foi sem dúvida com alguns deles que mais aprendi durante o curso e desenvolvi mais o meu sentido crítico da sociedade.
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